sexta-feira, maio 12

Todos diferentes, todos iguais

Enquanto Manuel Maria Carrilho descobre a pólvora e grita a plenos pulmões o que já toda a gente sabia, os media passam a ser alvos das armas que tantas vezes usaram contra outras corporações: a podridão e corrupção "vive" tambem entre eles, os mensageiros da palavra, raras vezes independentes, algumas outras coniventes, manipuladores e abusadores do nunca escrutinado poder que carregam e, agora, tambem eles julgados sumariamente pela opinião de uma sociedade que nunca se notabilizou pela capacidade de aprofundar questões, habituada que está (por quem?) a fazer sensacionalismo de tudo e de nada.
Os espaços de opinião que os leitores, espectadores ou ouvintes esperam, pressupõem imparcialidade, e é obrigação dos Media proporcioná-la, não por opção mas enquanto dever ético e profissional. Que haja gente que prefira uma crítica meramente ressonante dos seus preconceitos mentais, culturais, sexuais, sociais, politicos, desportivos ou económicos não pode constituír modo de aligeirar a responsabilidade daqueles para quem a transparência deveria ser o primeiro dos bastiões.
A pluralidade, supostamente causa e efeito do aparecimento de orgãos de comunicação social livres, foi jogada fora nos ultimos anos por quem deveria saber que, por exemplo, um Político nunca puderá ser imparcial nas suas opiniões e, tendo disso conhecimento, nada justifica que apelide de "opinião crítica" o que não passa de um espaço de publicidade e manipulação da opinião pública. Nem sequer o aumento de audiências...
Há muito que se ouve falar de informação e opinião compradas. Mas não precisávamos de boatos para perceber que algo ia mal no reino do jornalismo. A imparcialidade, equilibrio e qualidade passaram a ser a excepção (que as há) nos espaços de opinião da comunicação social.
O egocêntrismo, a pose, a roupa de marca e os maus fígados dos comentadores, na maioria dos casos gente sem qualificações minimas ou habilitações técnicas (e, inclusive, qualidades humanas) para "debitarem" postas de pescada sobre qualquer assunto que a agenda mediática lhes atire para cima, passou a ser a substância do seu trabalho, baseado na crítica fácil e alavancado nos sentimentos primários de revolta de um povo que, habituadinho às suas rotinas, lá continua a ver e ouvir os mesmos senhores da verdade, semana após semana, mês após mês, sempre pronto a largar um "são todos iguais", e a reafirmar que, afinal de contas, não é assim tão ignorante pois que até já tinha pensado o mesmo que aqueles senhores tão importantes e cultos.
O lugar dos críticos profissionais, pessoas que deveriam ser diferentes das outras por fazer disso modo exclusivo de vida (e cuja formação académica lhes deveria ter proporcionado os instrumentos de a realizar condigna e imparcialmente, como acontece em qualquer outro campo de actividade), deixou de existir, para ser ocupado por gente que faz da crítica um meio e não um fim. Um meio para alimentar os seus egos, ou os dos amigos; as suas contas bancárias, ou as dos amigos; as suas esferas de influência, ou as dos amigos; ou as suas bases eleitorais, e as dos amigos. Tambem nos meios de comunicação social o "frete" substituiu o mérito. Todos diferentes, todos iguais.