terça-feira, novembro 30

O código D´ Mantorras

“As críticas não me abalam. Os elogios não me iludem.” Não é esta a estória de Mantorras. Algumas boas exibições no Alverca lançaram-no para a grande montra, e dois golos ao Sporting para a ribalta. Filipe Vieira fez o resto quando ele próprio se transferiu para a presidência benfiquista, trazendo com ele a nova pérola africana.

O começo não poderia ser mais auspicioso. Arrancadas fulminantes e golos espectaculares transformaram-no num ícone do inconsciente colectivo benfiquista e Angolano. O “menino”, de repente, valia 18 Milhões de contos e ia ser o melhor jogador do mundo. O novo Eusébio. Começara o tempo das ilusões. Porque Mantorras acreditou nisto tudo. E quem, no lugar dele e com a idade dele, não acreditaria?

Começou também o tempo das “Operações” na Luz. Ficou célebre o fenómeno “Operação: Deixem o Mantorras jogar”. Que foi um fracasso em toda a linha. Não só não deixaram jogar Mantorras, como o lesionaram com gravidade num joelho. E é então que surge o fenómeno “Operações a Mantorras”. Sucessivamente repetido ao longo dos últimos anos, com acusações a departamentos médicos. Rolaram cabeças. Consultaram-se grandes especialistas. As acusações a médicos acabaram. Mas as ilusões de Mantorras não. Agora é que ia ser. “Mantorras vai voltar já, e dar muitas alegrias ao povo Angolano!”. O povo rejubilou, e os adeptos acreditaram.

Só que, de repente, acabou a esperança. Passámos a fase das piadas: o “18 milhoes”, o “paletes de guaraná” (em referência á campanha publicitária de Jardel aquando da sua bem sucedida época em Alvalade”), e chegámos á fase do desprendimento, que coincide com a terceira operação a que foi sujeito há poucos meses. “Mantorras acabou”. Foi o que se ouviu um pouco por todo o lado quando a noticia saiu, gélida como um iceberg titaniquiano.

Parece mau, não parece? Talvez. Mas uma coisa é certa: um jogador jovem é, por si, alguem com um potencial de deslumbramento elevado. Não precisa que presidentes, adeptos ou povos inteiros atirem mais lenha para a fogueira, colocando-lhe em cima uma pressão que ele simplesmente não é capaz de suportar. Neste momento a lenha deixou de caír, e Mantorras prepara a fase seguinte da sua recuperação: fazer um negócio com Deus. “Eu largo as minhas ilusões de grandeza, e tu deixas-me jogar á bola”. Jogar pelo prazer de jogar. Só.

Da minha análise astrológica resulta o seguinte: é fabulosamente difícil a fase que o jogador tem atravessado, e continua a atravessar. Mas o “menino” vai voltar. Mais forte e mais capaz do que nunca. È imperioso saber esperar. Ele, o presidente, os benfiquistas. O período temporal em que isso sucederá não o consigo determinar com exactidão, até porque não possuo a hora de nascimento do jogador. Mas não andarei muito longe da verdade se apontar para o regresso pleno, e em excelente nivel, por volta de Janeiro de 2006. Um regresso em grande, de uma pessoa de cabeça limpa. Corpo são em mente sã. É assim que diz, não é? Não quero com isto significar que o jogador apenas estará totalmente recuperado a nível fisico em Janeiro de 2006. Quero dizer que é a partir desse momento que o Mantorras por quem todos aguardam há já algumas épocas irá pôr em prática o seu enormíssimo potencial futebolístico. A popularidade será, então, maior que nunca.

Sei que parece altamente presunçoso afirmar isto de forma tão recta. Até porque eu, ao contrário do ex-Primeiro Ministro, raramente tenho certezas e engano-me muitas vezes. Mas as indicações astrológicas são estas. E eu sou astrólogo.

Mantorras é mais do que um jogador de futebol. È um exemplo de vida para todos que, tal como ele, comeram o pão que o diabo amassou. E que, como ele se reerguerá, se levantaram da lama em busca da vida. Não contra tudo e contra todos. Mas com tudo e com todos. O tempo que levamos a perceber isso é o tempo que demoramos a descodificar o código do nosso Santo Graal. Estamos á espera, Mantorras. E não temos pressa. Porque vai valer a pena.