quinta-feira, novembro 24

Game, Set, Match

Num artigo de opinião publicado hoje na versão on-line do diário desportivo Espanhol "Marca" o jornalista Jaime Vargas compara a actual situação do treinador Luxemburgo com a de uma frase do ultimo filme de Woody Allen, "Match Point".

"Há um momento na partida em que a bola bate na parte superior da rede e, por uma milésima de segundo, pode cair para um lado ou para o outro da mesma. Com um pouco de sorte resvala para o campo adversário e ganhas, ou então não, cai no teu e perdes".

Em linguagem astrológica existe um determinado número de configurações planetárias que reflectem esta realidade. A da derrota do ego, da humilhação pública, pessoal ou profissional, que todos, sem excepção neste mundo, em algum momento das suas vidas terão de ultrapassar.

Naqueles momentos a puta da bola deixa-nos cara a cara com o conceito de destino, encarado enquanto manifestação crua de má sorte e de falta de controle sobre a realidade. Não somos nós que mandamos. Estamos à mercê do que a providência queira de nós. E o mais das vezes o que ela quer é que larguemos o ego, o orgulho de vencer, e aprendamos a viver com algum desprendimento da nossa própria auto-glorificação.

Exemplos no mundo da bola de jogadores a viver este tipo de padrão astrológico nos ultimos tempos ou tempos próximos há-os aos magotes. Raúl Gonzalez, Guti, Casillas, Helguera, Polga, Deivid, Ricardo Costa, Jorge Costa (em aproximação), Simão Sabrosa (em aproximação), Karagounis (em aproximação), Pinilla, Ibson, Jorginho, Luís Fabiano... E em tempos idos (2001/02) tambem Jardel andou com este fado astral às costas.

E agora reparem na crueldade cósmica, enquadrada pelo seu modus operandus. Deixa-se o atleta colocar-se numa posição de endeusamento, quer pelas circunstâncias profissionais de vida, quer pelas pessoais, e chegado áquele momento em que a baliza está aberta e só falta empurrá-la lá para dentro retira-se sádicamente o tapete ao nativo. Há sempre um poste pronto a bloquear-lhe as ambições, num momento em que as estatisticas deixam de interessar. Nem o tempo de posse de bola, nem o numero de oportunidades de golo da equipa são relevantes, porque a lei das probabilidades está enguiçada a nosso desfavor. Ao adversário parece que lhe basta rematar uma vez para marcar dois golos. E marca mesmo.

O que tem acontecido ao FCP na época passada e nesta primeira metade da temporada tem tudo a ver com isto. O que aconteceu com o Real Madrid nas ultimas três épocas tem tudo que ver com isto. Mas o ponto forte deste fado è que ele é dinâmico, na pespectiva em que, como diz o ditado, não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe.

E à medida que nos céus a caminhada imparável dos planetas se dá, qual relógio do tempo das emoções humanas, o alfinete da derrota egocêntrica vai mudando agulhas para novos protagonistas. Para os que dele se libertaram resta uma experiência única sob a forma de lição que, se bem aprendida, não será motivo de vergonha a esconder. Pois que, os únicos derrotados terão sido os que se negaram a "crescer" em humanidade, tolerância, auto-compreensão e aceitação do próximo tal qual ele è.

O que somos e o que valemos não está dependente do que fazemos, do que temos ou das vitórias que alcançamos. O que somos e o que valemos não deve estar dependente, ao menos aos nossos olhos e aos daqueles que nos conhecem e amam , do lado em que a puta da bola cai. Quando se compreende isto verdadeiramente tem-se o ponto decisivo ganho. Game, Set, Match.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Bom texto !



J

10:00 da manhã  

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