sábado, junho 24

Boas em movimento vertical

André Vilas Boas in "O jogo" (http://www.ojogo.pt/22-123/artigo561431.htm), analisa a Holanda "armado" em Rotura de ligamentos. E não está nada mal de bola, este adjunto de Mourinho.

"Criatividade e organização. Este é o binómio que se pretende em qualquer equipa e esta Holanda reflecte exactamente isso. Por um lado, há comportamentos na equipa que revelam a astúcia dos treinadores holandeses, por outro é ainda nítida a subserviência ao insultuoso ditador Johann Cruyff. Quando constroem curto a partir do guarda-redes, os holandeses têm aquilo que falta à nossa selecção, que é uma tranquilidade extrema para trocar a bola entre os defesas à medida que vão fazendo o "campo grande", provocando o adversário à pressão cega e automaticamente partindo-lhe o bloco. Têm também um traço do Barcelona de Rikjaard quando Sneidjer e Van Bommel fingem movimentos de profundidade mas no fundo estão é a aumentar o espaço onde Cocu vem receber a bola para organizar curto ou longo. Este tipo de comportamentos permite que consigam entrar no meio-campo adversário sempre com uma situação de vantagem numérica ou espaço-temporal. Depois, e já em terceira fase (entenda-se na criação de oportunidades), há movimentos curiosos que podem surpreender: o primeiro é fruto da obsessão de Cruyff que defende que os laterais estão em campo para atacar e se possível ao mesmo tempo. O segundo é o comportamento vertical de Sneidjer, que, quando se vê longe do centro das atenções, aparece de trás para a frente para finalizar (diferente do tipo de médios defensivos que "só" se colocam por trás da linha da bola para dividirem jogo). O terceiro é a alternância entre amplitude e profundidade que Van Persie e Robben permitem, umas vezes estão abertos e juntamente com os laterais em apoio criam situações de 2x1 contra o lateral adversário, noutras, e principalmente quando Van Nistelrooy baixa ao meio-campo, entram imediatamente em diagonal nas suas costas. Esta alternância traz imprevisibilidade ao jogo holandês e, juntamente com a criatividade de Robben, o cocktail torna-se explosivo e tudo pode acontecer.
De novo o nosso quarteto defensivo vai ser posto à prova mas desta vez é na relação dos centrais com os médios-centro que vai estar o ponto nevrálgico. Se o bloco estiver compacto, Ricardo Carvalho e Meira podem simplesmente "passar" Nistelrooy a Costinha e Maniche para poderem controlar a chegada de Robben e Van Persie. Se o bloco estiver partido e se algum dos centrais for arrastado até ao meio-campo, aí vamos estar expostos e se Robben fizer o que fez no jogo contra a Sérvia e Montenegro poderemos sofrer.
Mas nem tudo são más notícias, há pontos que podemos explorar. O primeiro, e porque conheço-o bem, é uma pequena "sonolência"/distracção de Robben para defender, o que poderá permitir a Miguel a profundidade pela faixa sem oposição. Outro dos desequilíbrios virá em curtos períodos de superioridade no meio-campo fruto da verticalidade de Van Bommel e da falta de intensidade de Cocu (nesta exploração Maniche e Deco podem ser fundamentais com constantes penetrações - igual se possível à que deu o 1-0 contra o México).
Finalmente, e dentro da cultura holandesa de aplicar o fora-de-jogo, antevejo desde já as diagonais de Pauleta mesmo no limite mas saindo sempre com um timing perfeito para explorar
o espaço nas costas de Mathijsen e Ooijer.
Estamos fartos de ganhar à Holanda mas eles também estão fartos de perder contra nós. E, atenção, continuamos a facilitar nas bolas paradas. "