Para-quedas

A dois dias do final da época desportiva a comissão disciplinar da Liga decidiu o processo "apito final". Dois dias. Já não aguentaram mais dois dias com a comichão nos tomates de não decidirem.

Se o Bill Gates fôr à barra de um tribunal penal e lhe quiserem aplicar uma pena de multa, das duas uma: ou não há um limite para a multa a impor pelo tribunal, e esta ascenderá a largos milhares de Euros, ou há um limite reduzido (para o bolso de Bill Gates) e aplica-se um outro tipo de pena.

Se corrompes um árbitro, e os regulamentos, nas palavras de Ricardo Costa, não preveem uma pena simétrica entre corrompido e corruptor, nem uma pena justa para o corruptor, então vais aplicar a pena possível no momento em que o seu efeito está completamente esvaziado ou quando, por pequeno que seja, cumpra ao menos esse efeito?

E se, podendo não o fazer, optares pela primeira hipótese, tiveste-os no sitio e mostraste a tua diferença para com o resto da corja, ou foste apenas mais um a negociar uma decisão e o momento da sua deflagração, movido por interesses e influencias, quiçá sabendo que dependes deles para te manteres no posto que ocupas?

Uma decisão para Inglês ver. O processo que a trouxe até nós, hoje, a dois dias do final do campeonato 2007/08, demonstra os quão envergonhados dela estão os membros da comissão disciplinar da liga. A necessidade justificativa de que o discurso de Ricardo Costa está apinhado prova que a consciência não está tranquila.

Com todas as desculpas de que se possa munir, Ricardo Costa e a sua comissão podia, e devia ter feito melhor. Ele sabe disso. Nós sabemos disso. Os jornalistas sabem disso. Mas ninguém diz nada, caladinhos que nem ratos. Porque todos temos a nossa parte do bolo a proteger. Porque o sistema alimenta todos os que dentro dele estão. Ou acham que Ricardo Costa caiu lá de para quedas? Por que foi isso que fez: amparou a queda de alguem.