sexta-feira, dezembro 8

Golpe de vista

Dos diversos pontos de vista de que se pode observar o livro de revelações de Carolina Salgado, o que mais me agrada é o do efeito do desprezo numa mulher abandonada. É o mais belo porque, ao menos, revela resquicios minimos de algum tipo de nobreza de carácter. Claro que muitos outros pontos de vista se admitem, e provavelmente mais consonantes com a realidade, como o de uma vingança premeditada e capitalizada nas vendas de um livro.
Mas, e não querendo menosprezar o papel de Carolina na trama, a grande complexidade deste caso tem que ver com Pinto da Costa. O que leva um homem rico, poderoso e com estatuto a associar-se, publicamente, com uma senhora cujo carácter estava à vista de todos desde o primeiro momento?
Que multiplicidade de sentimentos tomou conta do presidente do FCP para assumir um relacionamento com Carolina Salgado, isto sim, dava um belo livro sobre a falta de linearidade da vida; sobre o preço que estamos dispostos a pagar pelo elixir da juventude; e de como ceder a sentimentos de solidão é o maior risco de um homem só e com muitos segredos.
Não há quem denuncie casos de corrupção porque toda a gente que sabe de alguma coisa tem algo a perder. E há duas diferenças fundamentais entre Carolina e todas as outras pessoas que Pinto da Costa traiu e/ou abandonou: Carolina tem algo a perder mas tem, ou julga ter, muito mais a ganhar, e Carolina perdeu há muito a vergonha que impede muita gente de vir para a praça pública dar a cara num caso com tanta sujidade. Pior do que ser conhecida por trabalhar numa casa de alterne não pode ficar...
Tão habituado a lidar com mafiosos, Pinto da Costa defendeu-se, no caso de Carolina Salgado, com um golpe de vista. Deu um frango monumental e pôs em causa os outros membros da organização. Como no script de um filme "manhoso" a "gaja" lixou tudo. Porca miséria!!