Um dia chegou à Luz um treinador jovem, bem parecido, a roupa moderna e de bom gosto a assentar-lhe como uma luva. Com um discurso ambicioso, virado para o futuro, para o virar de página de um gigante adormecido, entretanto esquecido de como se constroem vitórias.
Um tónus de vitalidade no rosto, a imagem de um treinador a querer reflectir uma atitude de reformar, reformular, mudar, de querer, ele próprio em busca da glória perdida em projectos antigos interrompidos bruscamente.
Todos, ele e Rui Costa, o real líder, o príncipe; ele e Vieira, o Presidente-fachada, com uma palavra na ponta da língua: Mudança.
E como, sem saber, plasmado tem na sua conjuntura para 2008/09, as palavras “mudança” e “fardo” unidas como gémeos siameses.
Com a temporada ainda no seu início, não tardará que cheguem novas de uma crescente irritação de QF, finalmente desembocando em intolerância, mau feitio, discussões estéreis e dificuldades de gerir o grupo e a relação com os directores. Um privilégio, entretanto sentido como um verdadeiro fardo. A começar a registar já em alguns jogos da segunda metade de Setembro 2008 e, depois, de meados de Novembro a meados de Dezembro 2008.
Quando não, às inseparáveis “Mudança” e “Fardo”, se juntará uma terceira palavra, para um “ménage” promíscuo: “Separação”. Isto porque as mudanças demorarão mais do que o previsto, e porque nem sempre serão mudanças no caminho desejado pelo jovem Espanhol.
Finais de Dezembro 2008 e primeira metade de Janeiro 2009 é um dos períodos mais recomendáveis para QF, onde irá conseguir gozar, livremente e de modo mais duradouro, os prazeres das vitória e da boa imprensa sem os escolhos dos fantasmas presentes. O mês de Outubro 2008 deixa, também ele, boas indicações.
Mas vários momentos durante 2008/09 prometem colocar em risco a posição de Quique, embora nenhuma como a que vai de finais de Janeiro a finais de Março 2009. Algumas dúvidas subsistem no meu consciente relativamente à segunda metade de Março, período mesclado por tendências planetárias conflituantes, umas a apontar para melhorias na popularidade do treinador, mas muitas outras revelando um potencial de rescisão de monta.
Quiçá, e dada a enormíssima flutuabilidade do mundo do futebol, tenhamos tempo para confirmar todas estas energias (entre finais de Janeiro e finais de Março 2009), quiçá nem por isso, mas estranho seria que o técnico não corresse real perigo (ou, da perspectiva dele, não estivesse “mortinho” por isso”) de finalizar abruptamente a sua ligação ao Benfica.
O que é certo é que o tónus de vitalidade de início de época será, então, um tempo já muito distante. A falta de vitalidade reinará como um fantasma, rebocando Quique a um estado de ambiguidade, incerteza, pouca claridade, e a uma susceptibilidade enorme a decepções, capaz de o isolar do mundo, do grupo de jogadores e dos directores do clube.
Abril 2009 traz consigo boas energias para que Quique Flores encontre oportunidades de melhorar a sua relação com a imprensa e, até, para realizar novos contratos ou alcançar acordos complicados mas, apesar de tudo, o final de temporada, se ainda se mantiver na Luz por essa altura, é marcada por um crise crescente, uma obstinação, uma dificuldade de adaptação e sempre, sempre, com o acento tónico em “Separação”.
Claro que esta é uma análise global à conjuntura 2008/09 do treinador do Benfica, um olhar de cima para a floresta e, por entre este olhar, muitas árvores ficam por contar, pelo que, nem só de “pauladas” vive Quique.
Por ser uma análise global, aqui fica o que mais me saltou à vista, com um sublinhado nas dificuldades monstruosas na implementação das reformas desejadas, e que se exigem, por Flores, e no potencial conflito entre este e a direcção do clube.
Procuraremos, durante a temporada, confirmar, corrigir, infirmar, adaptar, melhorar, explorar, a previsão que aqui fica, criando um nexo de ligação (imprescindível) com as conjunturas dos jogadores do plantel benfiquista.